domingo, 8 de janeiro de 2017

Conversando com estrelas!



                             Voando e conversando com estrelas.
(Há muito de arte e e poesia na vida dos pilotos.)
Ontem, naqueles velhos tempos da aviação romântica; ontem, naqueles tempos “idos e vividos”, os pilotos pilotavam seus aviões! Hoje, eles mais monitoram computadores, e “menos” pilotam seus aviões.  Antigamente havia de tudo nos aviões: -- piloto, copiloto, mecânico, radiotelegrafista, navegador, artilheiro de cauda, de nariz, operador de radar, bombardeador; às vezes até capelão! Era tanta gente a bordo dos B-17, dos B-26, dos B-25; eram tantos “B’s”! O B-29, por exemplo, o famoso “Enola Gay” do Coronel Paul Tibbets, aquele lançou a Bomba Atômica sobre Hiroxima. Hoje, não; hoje um único piloto pode fazer tudo e tudo por “economia”.  Há de chegar o dia quando fará também o papel de comissário de bordo, com o avião nas mãos do “Piloto Automático”. O GPS, o Transponder, o ILS; as bombas e os mísseis guiados a “laser”, e tantos outros equipamentos, ajudam muito.  Os rádios hoje falam com o mundo inteiro. Quanta diferença daqueles tempos do “dididadá” dos sinais telegráficos.
Quando Tenente “Pica Fumo”, eu passava horas, dias, meses, anos dando instrução de voo no Estágio Avançado para os Cadetes do último ano, na Academia da Força Aérea, em Pirassununga. Eram quatro, às vezes cinco duplos por dia: Partida do motor, rolagem, decolagem; subida, manobras, acrobacias; voo de grupo, voo no dorso, mais acrobacias; descida para o pouso, “pilofe”, sem nunca esquecer de baixar o trem de pouso; pousar sem trem é o mesmo que perder pênalti!  Ensinávamos e aprendíamos tudo ao mesmo tempo. Aprende-se muito ensinando os outros a voar. Há de se estar sempre atento; de “olho vivo no inimigo”; o primeiro descuido pode ser o fatal.
E aquele tenente novinho que voasse mais recebia como prêmio pegar o “seu T-6”, e ir passar o fim de semana na sua cidade preferida. Como a “minha novinha” morava em Natal, era para lá que “aproava”, vez em quando, o “meu avião”.  A viagem era longa e cansativa; “noturnão”, sozinho no meu vagaroso T-6, que não puxava mais do que 140 milhas, mais ou menos 240 km. Para matar o sono, pernoitava alguns “minutos” em Ilhéus. E decolava bem cedo para almoçar uma gostosa carne de sol em Natal.
Hoje estou aqui a lhes contar essas amenidades; essas recordações sempre ligadas aos ares azuis dos céus do meu Brasil. Ora voando a favor, ora contra os ventos; ora olhando a lua, o olho frio dos céus; ora “namorando” as Plêiades, as sete irmãs da constelação “Touro”. Aldebarã, Belatrix; as Três Marias, no cinturão do Orion. Sirius, Canopus.  Mas como tudo aquilo me embriagava com sua beleza. Por alguns momentos esquecia-me de mim mesmo; esquecia até da minha própria vida; sentia-me livre e como que dissolvido no vento e nas frias águas das chuvas. Quantas vezes eu colocava a mão para fora da cabine, e os pingos mais pareciam alfinetadas. Recolhia um pouco daquelas águas geladas e passava no rosto, para espantar o sono. Sentia-me livre e além, muito além dos temores pequeninos e das mesquinhas ambições humanas. O “piloto automático” era as minhas mãos já cansadas, mas segurando firme o “manche” do meu sempre fiel amigo, o meu saudoso “NA T-6”...
Coronel Maciel.

Um comentário:

zimmermann10 disse...

Saudade dos seus artigos nos jornais de Natal.Grande Abraço!