Pelotões de Fronteiras!
Hoje, domingo, sem ter
nada para fazer, peço-lhes permissão para contar outros “causos” de outros
Pelotões de Fronteiras! A floresta lá embaixo; linda, imensa; virgem, verde;
milhões e milhões de árvores enormes espalhando sombras para bilhões de insetos
e animais silvestres; sombras que dificultavam a nossa navegação, pois, rios,
riachos, igarapés constantes nas cartas “WAC” de Navegação Aérea estavam também
encobertos pelas sombras e pelos abraços das imensas árvores. Naqueles velhos tempos
não havia nem sombras de “GPS”! Estávamos voando de Manaus para Forte Príncipe
da Beira; entre os passageiros um Tenente recém-formado da AMAN! Ela, sua
esposa, menina ainda, com a pele ainda bronzeado do “Sol de Ipanema”. Ele ia
assumir o “Comando do Pelotão”. Lembro-me bem quando a esposa “substituída”,
recepcionou, os olhos ainda remelentos do assédio de “bilhões” de mosquitinhos,
dizia, rindo, alegre, brincando: -- Minha filha: - Aqui não tem nem Coca-Cola! Uns
dois anos depois, e já era outro o tenente comandante do Pelotão, transportávamos
uma comitiva do Exército. Ao chegarmos, com o General sentado ao meu lado, na
cadeira “gentilmente” cedida pelo meu copila, ficamos sobrevoando o Majestoso Forte Príncipe da Beira, construído nos últimos anos do Século XVIII; e
fiquei imaginando como foi possível trazer as Cantarias de Belém, rios acima;
os pesados canhões de bronze; as pedras,
pois naquelas margens do Rio Guaporé não há pedras; que tarefa titânica; sem
paralelo; sem a nossa heroica COMARA, a Comissão para Construção de Aeroportos
na Região Amazônica; sem os nossos Hércules
C-130; enfrentando as febres equatoriais; enfrentando as arremetidas dos
castelhanos; enfrentando tudo; porém nada conseguiu impedir que brasileiros e
portugueses, de mãos dadas, levassem a cabo este incrível empreendimento da
história da nossa colonização. Pousamos e fomos recebidos pelo Tenente
Comandante do Pelotão. No almoço, a maior surpresa: -- Onde haviam conseguido
aquelas enormes pedras que serviam de piso, num improvisado "restaurante"
nas margens do Guaporé, pergunta o General; e durante o almoço, brindados que
fomos com uma suculenta tartarugada, quando o General ficou uma “verdadeira fera”,
quando o Tenente, inocente e coitado, informou assim meio sem jeito, que havia
tirado aquelas pedras "daquele Forte, ali abandonado". -- E estas
tartarugas? -- Não sabe que está proibida a pesca? Foi aquele silêncio geral e
desconfortável. Tentando aliviar a situação do embaraçado Tenente, falei ao
General, meu copila na chegada, que, se nós não pegássemos as tartarugas, os
Bolivianos, do outro lado do rio, iriam se fartar: - - Explica, mas não
justifica. -- Vou levar este caso ao conhecimento do “Figueiredo”, meu colega
de turma, e meu particular amigo, quando haveremos de restaurar este Forte;
aliás, é o único quadro, pintado a óleo, que guarda o meu Gabinete: -- Uma ótima
ideia, General, disse eu, tentando contornar o “CB”, mas meio desconfiado de poder
levar também alguns respingos da “mijada”. No dia seguinte decolamos para
visitar outros Pelotões de Fronteiras. Durante o voo fiquei imaginando como é
dura a vida naqueles tão longínquos Pelotões de Fronteiras, onde “não tem nem
Coca-Cola”...
Coronel Maciel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário