terça-feira, 16 de agosto de 2011

É DOCE VIVER ASSIM...


É de lá que eu acabo de chegar. Da “Redinha Velha”... Do Bar e Restaurante “Casa Azul”, da dona Cilândria -- Cilândria com acento na “A” para não ficar Cilandria, ela me diz sorrindo... Gosto de ir à Redinha nas segundas-feiras, quando não tem “ninguém” por lá, só mesmo seus antigos habitantes; seus velhos marinheiros... Pego o meu Fiatizinho e lá vou eu, sempre acompanhado do meu “plangente” violão, pronto para qualquer “emergência”... Chego e fico bem debaixo da ponte, uma linda ponte recém-construída que atravessa o Rio Potengi. Mês de Agosto é o mês dos grandes ventos por aqui. Grandes ventos lavados de areia e de espuma... Grandes ventos empurrando as nuvens que passam ligeiras, vindas dos braços abertos de Yemanjá, parindo peixes...

Hoje coincidiu de eu chegar bem na hora em que passava quase esbarrando nos seus enormes pilares o navio que abastece Natal de combustível. Estava eu lá admirando aquilo tudo -- pálido de espanto, como ficava o Olavo Bilac olhando suas estrelas -- quando ouço ao longe o som de músicas antigas, bem antigas, daquelas que eu mais gosto de ouvir cantar... Fui chegando, chegando; devagar, devagarinho e foi quando me deparei com restaurante “Casa Azul”. Não conhecia o lugar. Subi por uma escadinha e encontrei dona Cilândria, quase dormindo, quase sonhando, ouvindo a cantora Tânia Alves; belezas de músicas antigas... Não havia mais ninguém por lá. Pedi licença, e dona Cilândria logo me ofereceu uma cadeira de balanço. Sentei (ou deitei?) e fui logo puxando conversa; eu mais ouvindo que falando... Gosto de ouvir pessoas humildes conversando, falando, contando suas lendas, suas histórias, suas vidas...

Escrito na parede, o cardápio:- - Porco, carneiro, galinha caipira, peixe assado na macaxeira, carne de sol e “ginga” na tapioca... Pedi uma “Guaiuba” no capricho... -- Tem de cinco e tem de dez “real”... -- Veja uma de dez, dona Cilândria. -- O senhor bebe?... -- Não, dona Cilândria, faz um bom tempo que deixei... Mas hoje o senhor vai voltar... Experimente a minha batida de Pitanga; é toda especial... E foi quando apareceu Mariazinha, sobrinha de dona Cilândria que, não notando minha presença, entrou no bar cantando alto e em bom tom, imitando a Tânia Alves... E que linda voz. Não resisti, pedi uma dose da “Pitanga”, só para experimentar; gostei, pedi mais uma, depois mais uma, e acabei perguntando à dona Cilândria se eu podia ir buscar o meu violão, e acompanhar Mariazinha... Dona Cilândria me olhou com um sorriso meio maroto, e disse:- - E o senhor também sabe tocar violão? -- Acho que sim... – Então pode ir... -- Mas muito cuidado, hein? -- Disse soltando uma gostosa gargalhada...

E lá ficamos nós, eu, dona Cilândria, e Mariazinha cantando:

“Praieira dos meus amores,

Encanto do meu olhar!

Quero contar-te os rigores

Sofridos a pensar

Em ti sobre o alto mar...

Ai! Não sabes que saudade

Padece o nauta ao partir...”

...-- outras lindas melodias, sempre na companhia do meu afinado violão, do sussurrar dos ventos e do vai-e-vem das ondas do mar, banhando a linda praia da “Redinha Velha”...

É doce viver assim...

Coronel Maciel.

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