sábado, 20 de agosto de 2011

FORAM TANTOS OS QUE PARTIRAM...


Quando acontece um acidente como este que acaba de ocorrer com um helicóptero na bacia de Campos, todos nós -- pilotos, mecânicos, tripulantes, civis ou militares, sentimos como se fosse a perda de um filho, de um irmão, um pai, mãe... De alguém muito querido... Foram tantos os que partiram e que ainda não voltaram...

João Baptista Vieira de Souza, aluno 57-39 em BQ, entrou junto comigo na EPC do Ar. Mas desistiu da carreira já como oficial-aviador e foi procurar outro meio de vida. Alguma coisa... melhor remunerada... E foi voar na VARIG. Mas logo depois também desistiu da VARIG e foi ser “Hippie”. Uma vez encontrei o “Pi”, era assim que carinhosamente o chamávamos, acampado com a sua “Hippie” nas imediações da pista de pouso da cidade de Amapá. Fôramos muito amigos desde os nossos tempos na FAB, e após as fraternas amabilidades aproveitamos para atualizar “biografias”. Despedimo-nos, decolei para “Oiapoque”, e nunca mais nos encontramos. O “Pi” havia desistido de ser “Hippie”, e como ele tinha feito o curso de piloto de helicópteros ainda na FAB, foi defender-se pilotando helicóptero, a serviço da Petrobrás, no litoral do Rio Grande do Norte, quando sofreu uma pane sobre o mar, e morreu...  

Certa vez, lá pelos anos 80, fui acionado para uma missa SAR, num C-130 do 1/6 GAV, em Recife, para efetuar busca de um helicóptero conhecido com “Lagostão”, que havia caído próximo à Macaé, também à serviço da Petrobrás. Este também nunca foi encontrado... Outra vez decolamos de Recife para Florianópolis, onde nos esperava pronto para embarcar um helicóptero H-1H, o famoso Sapão, de onde decolamos, tudo noturno, para Rio Branco no Acre. A missão era resgatar os passageiros de um avião novinho, recém-adquirido nos EUA, por um rico fazendeiro do interior de São Paulo. Mas, é a tal coisa: economia de palitos; em vez de contratar um piloto experiente, porém um pouco mais caro, contratou um piloto novinho, porém muito mais “barato” para fazer o translado e deu no que deu... Perderam-se no interior do Acre, sofreram “pane seca”, sendo obrigados a efetuar um pouso de emergência num pantanal, cujo acesso só era possível de helicóptero. Passaram cinco dias rodeados de mosquitos, cobras e jacarés... Resgatados, a primeira coisa que o fazendeiro fez ao chegar foi correr ao bar do aeroporto de Rio Branco e se servir de várias doses de uísque... E só depois é pudemos conversar. -- Um verdadeiro horror me dizia o piloto; só quem já sofreu é quem sabe, me dizia, agradecendo muito por termos vindo “salvá-los”.  Foi quando o rico fazendeiro, já meio “bebo”, aproveitou para “esculhambar” com a vida  do piloto, chamando-o de incompetente e chorão... -- Economia de palitos foi o que você fez, -- eu lhe disse, “entre outras coisas”, saindo eu em defesa do assustado piloto...

Coronel Maciel.

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