quinta-feira, 18 de agosto de 2011

HISTÓRIA DE UM SOLDADINHO QUE QUERIA SER "AVIADOR"...


Quando eu era Tenente-Aviador, num daqueles dias frios na minha linda cidade das flores, tirando serviço de Oficial-de-Dia na Escola Preparatória de Cadetes do Ar, foi procurado por um “soldadinho”. Um soldadinho desses “bem mineiros”, que ingenuamente veio-me perguntar quando começaria a voar, pois “ouvira dizer” que servindo na FAB como soldado, poderia se tornar um “grande aviador”, seu grande sonho na vida. Sem acreditar muito no que me dizia; sem acreditar na sua santa inocência, disse-lhe que ele estava um pouco “enganado”, pois, para ser aviador como ele tanto desejava teria que, primeiro:- ser aluno da Escola; depois Cadete-do-Ar na Escola de Aeronáutica, no Campo dos Afonsos; depois Aspirante-Aviador em Natal; e só depois de muitos “depois” é que poderia chegar a ser o que queria -- isto se não topasse pela frente com algum desses enormes CB’s, que costumam cortar a carreira da gente...

Mas notei que o soldadinho ficou triste, muito triste, com um olhar perdido no espaço frio, infinito e azul de Barbacena. E senti pena, muita pena do soldadinho, quase um soldadinho de chumbo... Levei o caso ao comandante da Escola, um Brigadeiro com B maiúsculo, mais conhecido como Brigadeiro Camarão. Conversamos muito sobre o caso, como também rimos muito...

Dias depois, conversando com o soldadinho, que era muito humilde, mas muito inteligente, disse-lhe que havia resolvido ajudá-lo a conseguir realizar o seu “sonho impossível”... Arranjei um jeito de colocá-lo na Seção de Aviões da Escola. E lá, nas minhas horas vagas, fui lhe ensinando os rudimentos da aviação. Rudimentos de regras de vôo, regras de tráfego aéreo, navegação aérea, regras de vôo por instrumentos, e muitas e muitas e muitas outras coisinhas de aviação. E sempre que podia levava o soldadinho, como “Segundo piloto mecânico ajudante de reabastecimentos” nos vôos de Regente, nos “meus” T-6, nos célebres “Beech-Mata-Sete” -- e assim ele foi aprendendo os “mistérios” da aviação. Arranjei-lhe um cursinho “Wallita” de piloto privado no aeroclube. A assim ele foi indo, foi indo, foi indo, deu baixa da FAB e se tornou um grande comandante de aviação executiva. Até hoje o ex-soldadinho nunca se esqueceu da “ajuda” que lhe demos. Eu, o Camarão, e a sua grande força de vontade.



Coronel Maciel.


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