domingo, 7 de janeiro de 2018

Carlos Heitor Cony.

Uma vez eu li, faz é tempo, uma “crônica” do Carlos Heitor Cony, crônica que nunca mais esqueci, pois me lembra de minha mãe, que “foi embora” quando tinha 7 anos. A “história” era mais ou menos assim: Um menino triste, triste e solitário, que vivia sempre afastado dos colegas, colegas que zombavam muito dele porque usava meias vermelhas. Quando perguntado a razão, ele respondia com muita simplicidade: -- Ano passado, no dia do meu aniversário, minha mãe me levou ao circo, e botou em mim essas meias vermelhas; eu reclamei e comecei a chorar, dizendo que todo mundo ia zombar de mim. Ela me disse que, se eu me perdesse, bastariam olhar para o chão e quando vissem um menino de meias vermelhas saberiam que o filho era dela. “Mas você não está mais num circo! Por que você não tira essas meias e joga fora? O menino das meias vermelhas explicava: -- É que minha mãe abandonou nossa casa e “foi embora”. Por isso eu continuo usando essas meias vermelhas. Quando ela passar por mim, vai me encontrar e me levar com ela.
Machado de Assis falava do abismo que separa as esperanças de uns tempos, da realidade de outros tempos. Quando Cony se encontrar, lá nos cantos distantes do céu, com o menino das meias vermelhas abraçado com sua mãe; com o Presidente Castelo Branco, de quem Cony foi um dos mais acirrados críticos; com Machado de Assis, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, poderão, conversando entre os anjos e santos dos céus, encontrar uma solução para diminuir esse abismo que separa aquele Brasil dos tempos do Castelo Branco, desse Brasil sem os tempos do Castelo Branco...
Coronel Maciel.







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