sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O POLÊMICO "PROJETO JARI".

Uns três ou quatro anos antes do seu sonho de implantar um grande projeto na margem paraense do “Rio Jari” virar “um grande pesadelo” -- o Projeto Jari -- eu tive a feliz oportunidade de conhecer o multimilionário armador norte-americano Daniel K. Ludwig. Foi lá pelos idos de 1979/80, quando fui “escalado” para "dar uma opinião" sobre, na época, o tão combatido e controvertido projeto.


Eu, na época Major-Aviador, servia no Primeiro Comando Aéreo Regional (IComar) em Belém. Fui num C-47; mas antes de pousar, fiquei sobrevoando uma enorme região numa densa floresta equatorial, que estava sendo desmatada, e sendo reflorestada com mudas de uma espécie vegetal, a “gmelina arbórea”, vindas da Ásia, mas antes aclimatadas na costa atlântica da África. Projetava-se a plantação da gmelina para produção de celulose e papel, com corte previsto para uns oito anos, tempo bem menor do que acontecia em outras áreas do planeta de climas temperados, que era de 40 a 50 anos. Sobrevoei também a moderna cidade criada pelo velho Ludwig, uma incrível cidade -- Monte Dourado -- equipada com escolas, hospitais, eletricidade, saneamento básico, coisa nunca nem “imaginada” na região. Monte Dourado era a sede do projeto. Construiu-se 600 km de estradas principais, e muitas e muitas outras vicinais. Havia a previsão de uma ferrovia com 220 km, três campos de pouso, além de um grande plantio de arroz, de produção perene, sem interrupções sazonais; pecuária de alta qualidade...


Mas o que eu queria agora dizer, tantos anos depois, é alguma coisa sobre aquele homem riquíssimo, de uns 70 anos de idade -- por isso ele tinha muita pressa, me dizia – com seus negócios no mundo inteiro; que chegava de seus escritórios em Nova York utilizando-se de simples aviões de carreira da VARIG até Belém, viajando sempre sozinho. De Belém, Ludwig ia num “teco – teco” até o Jarí.


 -- Onde ele havia conseguido tanta coragem, eu lhe perguntava, para investir uma soma fabulosa, mais 600 milhões de dólares na época, numa região talhada com perfeição para demagogia, pois ali se reuniam ao mesmo tempo um enorme latifúndio e capital estrangeiro -- um verdadeiro "pato no tucupi", misturado com “maniçoba”, “tacacá” e muita pimenta... -- Naquela época era a maior moda ser contra o projeto. Era o “imperialismo americano” chegando à Amazônia, diziam os burros nacionalistas estremados. Lógico que ele, como homem de negócios, visava lucros.


O resultado foi que acabou sendo criada uma mentira, uma ficção, uma lenda envolvendo o governo estadual e o federal, que terminou emperrando aquele grande empreendimento, algo a meu ver, como disse no meu relatório, muito útil para a região, região muito pobre que tinha problemas reais até de sobra para serem resolvidos. Mas preferiram optar pelo desmatamento criminoso, como acontece até hoje na Amazônia.


Ludwig retirou-se do projeto, lá deixando enterrado muito dinheiro, uma enorme decepção, e uma imensa sensação de derrota, para um homem que sempre foi um vitorioso na vida.


Qualquer semelhança com os vinte anos dos militares no "Projeto Brasil", não é mera coincidência...


Coronel Maciel.

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