segunda-feira, 25 de julho de 2011

O CASO DO SARGENTO BERENALDO.

Dizem que duas grandes decepções na vida são:- - Uma, conseguir o que se quer; outra, não conseguir... É por isso que nunca se esquece a mulher que nunca nos quis... rsrsr

Berenaldo era um Sargento rádio-telegrafista que servia no Destacamento de Proteção ao Vôo em Parnaíba. Ele sonhava, assim como todos nós sonhamos, em acertar na loteria... Naquela época não havia a “Mega-Sena”. Só havia a recém-criada loteria esportiva. E o Berenaldo acertou sozinho o grande prêmio... Foi assim que ele me contou como fez para acertar “sozinho” os três cartões:- - Preencheu-os somente com o que ele considerou como sendo grandes “zebras”; depois foi enxertando os cartões com os palpites considerados lógicos. E no domingo à tardinha foi ouvir o resultado dos jogos no seu radinho de pilha, numa das belas praias de Parnaíba; olhando esperançoso lá longe, onde as paredes do céu se encontram com as águas verdes e bravias do oceano... E foi acertando, acertando, acertando e quando viu, estava rico! E ponha rico nisso... Ganhou mais ou menos o que representa hoje uma mega-sena acumulada!

Na época eu era Major- Aviador e servia no Serviço Regional de Proteção ao Vôo, SRPV-2, em Recife, a minha querida “Veneza Brasileira”. Dizem que o Berenaldo quando se viu assim tão rico, “ensandeceu” -- como dizia o nosso grande Machado de Assis nos seus lindos versos, a “Mosca Azul”... Saiu pagando as dívidas dos seus amigos militares que serviam no Destacamento. E foi se meter no ramo de supermercados, em Teresina, quando fez então a sua primeira grande “asneira”; -- trocou de madame; deixou a sua antiga e fiel companheira, que entrou na justiça e levou grande parte da sua grande “sorte”... Berenaldo  era muito bom no “dididadá” das antigas teclas de telegrafia, mas não era nada bom em finanças; em tratar com tanto dinheiro. Mas antes de fazer outras “coisas”, Berenaldo sumiu; entrou em "destrefa”; simplesmente desertou... Resolveu se apresentar depois de várias semanas, na sede do SRPV, que ficava numa área dentro da Base Aérea de Recife. Chegou todo nos "trinques". Paletó branco todo engomado, sapatos pretos de verniz, unhas bem tratadas, um perfeito turista internacional; um verdadeiro paisano... Convidei-o para um cafezinho, e fiquei admirando uma pessoa que, de repente, ficou milionário. Muito rico mesmo. Berenaldo sempre foi uma ótima pessoa; muito ingênuo e muito humano. Entrou no meu gabinete, sentou-se, e foi logo me dizendo:- - Major Maciel, vim pedir minhas contas da FAB... Mas antes ele me perguntou:- Major Maciel, o senhor está precisando de alguma ajuda? – Eu agora sou um homem rico... Eu respondi, também brincando:- - Mas primeiro -- sargento Berenaldo – considere-se preso! -- Você vai responder processo por crime de deserção... Mas a “mamãe” FAB poderá facilitar muito sua nova vida de milionário, caso você entre de Licença Especial, a partir do dia da deserção, coisa que eu já falei com o Brigadeiro e ele concordou. -- Isto para quebrar seu galho, eu disse brincando... E ainda lhe disse que esta era a sua melhor opção. Passar seis meses estudando a melhor maneira de aplicar tanto dinheiro. Mas de nada adiantaram os meus conselhos. -- Berenaldo nos disse adeus e partiu... -- Partiu, mas parece que não foi feliz. -- Afeito a só "martelar" no aparelho de telegrafia perdeu tudo. Assim fiquei sabendo, pois nunca mais o vi. -- Alguém sabe por onde anda o nosso grande amigo, o sargento Berenaldo?



Coronel Maciel.

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