segunda-feira, 7 de novembro de 2011

COMPREENDENDO OS INCOMPREEENDIDOS...

Os incompreendidos sofrem muito e amargamente. Os incompreendidos e tímidos sofrem mais ainda. Muito cuidado, ó mães, com seus filhos tímidos e incompreendidos... E às vezes são os fisicamente mais fortes os que dão abrigo às almas mais fracas, mais tímidas, mais incompreendidas...

Quando perdi a minha mãe, eu era ainda muito criança e não sabendo como sobreviver à libertação da sua alma me tornei um homem só... Todas as mães gostam de nos contar histórias; historias de nos fazer ninar... Vez em quando ela voltava a me contar sempre aquela mesma história; uma velha história que ouvira também da sua mãe, nos seus tempos também quando criança. Começava sempre assim e eu sempre assim sentado no seu colo: -- Meu filho; antes de você dormir, preste atenção nesta histórinha que vou lhe contar: -- Havia um casal muito antigo de amantes que viviam muito bem.  O amante era o símbolo da inteligência; o símbolo da força, da moral, da vontade, do poder... A amante, não... A amante era só intuição... A amante era só sensibilidade, alma, o subconsciente, o amor...  

Viviam bem, apenas o amante achava que sua amada não era tão inteligente como ele achava que ela deveria ser e que por isso deveria viver tão-somente para fazer coisas que ele achava simples e corriqueiras, como cuidar da casa, dos filhos, fazer-lhe a comida, ser-lhe muito e sempre obediente. Enfim, ser dono de seu corpo; jamais da sua alma...

Um belo dia o amante veio mais cedo para casa e quando se aproxima verifica que lá de dentro alguém canta uma canção como jamais havia ouvido outra tão bonita. Maravilhado, ele corre para ver quem cantava e descobre que a dona daquela voz tão suave e tão rica não era outra senão a sua delicada amante...  Esta, porém, assim que ele entra, cala sua voz. O amante pede, implora-lhe que continue a cantar. Mas implora o impossível porque ela sofre de inibição na presença dele. Desesperançado de tornar a ouvir aquele canto que tanto o fascinara, o amante, usando de um estratagema, sai outra vez. Da rua ouve de novo o canto. Volta, e ela novamente se cala. Assim minha mãe terminava a “historinha”, sempre com um olhar distante e perdido no céu infinito; uma história tão simples, mas tão cheia de sabedoria; uma história que serve para nos mostrar, nos ensinar que todas as vezes que a força, a falsa moral, a hipocrisia se intromete na arte, no mistério leigo de uma poesia ou de uma vida, esta se inibe, se cala, se cansa, se morre... Só restando um triste e silente vazio...

Coronel Maciel.




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