segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O CASO DE UM FUGITIVO DA JUSTIÇA BRASILEIRA.

Quem nunca foi deve ir logo, correndo, voando antes que acabe... Vá logo conhecer uma das regiões mais lindas do Brasil, que é a fronteira do Brasil com a Guiana Francesa; a divisa é feita pelo caudaloso Rio Oiapoque. Na sede do município havia um Pelotão de Fronteira, onde pernoitávamos. Era um dos vários Pelotões que apoiávamos, com os nossos valorosos Dakotas, os “gigantes” C-47... Apoio total, do Oiapoque ao distante Guaporé...


Foi numa dessas travessias feitas numa "voadeira" que -- desviando-se das perigosas pedras que se escondiam nas suas águas negras -- nos levava para compras “domésticas” em “Saint George”. Uma garrafa de bom vinho francês, perfume para fazer média com a madame; queijos, e outros inocentes “contrabandos”... Os colonos franceses, na grande maioria composta de cidadãos negros, a não ser os militares que serviam naquela pequena cidade, não conseguiam entender o que era inflação, pois lá não existia isto; os preços eram sempre os mesmos, mas em francos. Eram pagos regiamente pelo governo francês para viverem numa boa vida por lá, mas bem longe do conforto e das delícias de Paris. Eles também vinham fazer suas pequenas compras do lado brasileiro.


Pois bem; foi numa dessas travessias, conversando sobre a distante cidade de Natal, que um senhor se aproximou de mim e me falou que era natalense, mas que agora estava morando assim meio escondido por aquelas bandas...  Mas que sentia imensa falta de seus amigos e familiares que moravam em Natal. Na realidade ele era um fugitivo da justiça. Pediu-me para uma conversa reservada, e me contou o seu  caso, caso que tem muito a ver com esse tal “Kit Gay” que andam querendo distribuir pelas nossas escolas; foi assim:-- Ele matou um traficante em Natal que havia viciado e seduzido sexualmente um filho seu de menor idade. -- Da primeira vez, me disse ele, mandamos o menino para fazer um tratamento no Rio; na volta, após o tratamento, foi novamente provocado e seduzido, quando então resolvi matar o filho da puta...  E por isso agora vivo assim, fugindo da nossa cega justiça... À noite continuamos a conversa num bar, onde ele me contou muitos outros detalhes do caso. E só me contou por que ficou sabendo na conversa que conhecia a família da minha mulher, que é também natalense.


Fiquei comovido e fiquei logo do seu lado, dizendo a ele que, se quisesse, eu poderia falar com o Comandante do Pelotão, meu amigo e velho conhecido, que com certeza lhe daria todo apoio naquela sua triste condição de vida. Caso contrário, eu seria obrigado a lhe dar voz de prisão, disse brincando... (Será que eu tinha mesmo que lhe dar voz de prisão?).


Estou contando este caso, pois com certeza “meu crime” já prescreveu, pois lá se vão mais de 30 anos. Contei o caso ao Capitão comandante do pelotão, que também aceitou ser “cúmplice”... Voltei para Belém, e nunca mais fiquei sabendo o final daquela triste história, daquele triste drama...


Sou contra a pena de morte, a não ser em casos assim...


Coronel Maciel





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