sábado, 3 de agosto de 2019
O PROJETO JARI.
Uns três ou quatro anos antes do seu sonho de
implantar um grande projeto na margem paraense do “Rio Jari” virar “um grande
pesadelo” -- o Projeto Jari -- eu tive a feliz oportunidade de conhecer o
multimilionário armador norte-americano Daniel K. Ludwig. Foi lá pelos idos de
1979/80, quando fui “escalado” para "dar uma opinião" sobre, na
época, o tão combatido e controvertido projeto. Eu, na época Major-Aviador,
servia no Primeiro Comando Aéreo Regional em Belém. Fui num C-47; mas antes de
pousar, fiquei sobrevoando uma enorme região numa densa floresta equatorial,
que estava sendo desmatada, e sendo reflorestada com mudas de uma espécie
vegetal, a “gmelina arbórea”, vindas da Ásia, mas antes aclimatadas na costa
atlântica da África. Projetava-se a plantação da gmelina para produção de
celulose e papel, com corte previsto para uns oito anos, tempo bem menor do que
acontecia em outras áreas do planeta de climas temperados, que era de 40 a 50
anos. Sobrevoei também a moderna cidade criada pelo velho Ludwig, uma incrível
cidade -- Monte Dourado -- equipada com escolas, hospitais, eletricidade, saneamento
básico, coisa nunca nem “imaginada” na região. Monte Dourado era a sede do
projeto. Construiu-se 600 km de estradas principais, e muitas e muitas outras
vicinais. Havia a previsão de uma ferrovia com 220 km, três campos de pouso,
além de um grande plantio de arroz, de produção perene, sem interrupções
sazonais; pecuária de alta qualidade. Mas o que eu queria agora dizer, tantos
anos depois, é alguma coisa sobre aquele homem riquíssimo, de uns 70 anos de
idade -- por isso ele tinha muita pressa, me dizia – com seus negócios no mundo
inteiro; que chegava de seus escritórios em Nova York utilizando-se de simples
aviões de carreira da VARIG até Belém, viajando sempre sozinho. De Belém,
Ludwig ia num “teco – teco” até o Jarí. -- Onde ele havia conseguido tanta
coragem, eu lhe perguntava, para investir uma soma fabulosa, mais de 600
milhões de dólares “na época”, numa região talhada com perfeição para
demagogia, pois ali se reuniam ao mesmo tempo um enorme latifúndio e capital
estrangeiro -- um verdadeiro "pato no tucupi", misturado com
“maniçoba”, “tacacá” e muita pimenta. -- Naquela época era a maior moda ser
contra o projeto. Era o “imperialismo americano” chegando à Amazônia, diziam os
burros nacionalistas estremados. Lógico que ele, como homem de negócios, visava
lucros. O resultado foi que acabou sendo criada uma mentira, uma ficção, uma
lenda envolvendo o governo estadual e o federal, que terminou emperrando aquele
grande empreendimento, algo a meu ver, como disse no meu relatório, muito útil
para a região, região muito pobre que tinha problemas reais até de sobra para serem
resolvidos. Mas preferiram optar pelo desmatamento, a meu ver, criminoso, como
acontece até hoje na Amazônia. Ludwig retirou-se do projeto, lá deixando
enterrado muito dinheiro, uma enorme decepção, e uma imensa sensação de
derrota, para um homem que sempre foi um vitorioso na vida. Qualquer semelhança
com os vinte anos dos militares no Projeto Brasil, também a meu ver, não é mera
coincidência...
Coronel Maciel.
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