Nunca fui Comandante. Mas
já trabalhei diretamente com grandes comandantes. Comandei aviões; foram mais
de doze mil horas de voo, sem nunca haver “arranhado” nenhum dos “meus aviões”.
Aviões devem ser pilotados com muito carinho, com muita “finesse”, como se
fosse a mulher amada (vacilou, cachimbo cai...). No comando de um avião as
decisões precisam ser rápidas e certas. Não adianta decisões rápidas, mas
erradas; qualquer vacilo pode ser fatal.
Sempre fui muito mais aviador que oficial. Mas
sempre fui promovido por merecimento; embora, algumas vezes, tenha sido necessário
recorrer; e sempre ganhei nos recursos.
Minha alma é cheia de arestas. Sou de poucos amigos e de difícil
convivência. Acho que quem tem muitos amigos, acaba sem ter nem um “grande
amigo”.
Nunca fui “Comandante”,
mas consigo imaginar a grande solidão dos que comandam. Quantas vidas em suas
mãos! Ouvi dizer -- e quem me dera não fosse verdade – que ordens superiores
proibiram qualquer manifestação, em qualquer unidade militar, lembrando o que
aconteceu naqueles idos de 64! Neste caso, manda quem pode; obedece... quem não
tem juízo... (Opinião de quem nunca comandou...)
Imagino o quanto é
difícil ser “ator”. Imagino também o quanto é difícil aprender a não sermos nós
mesmos! O quanto é difícil representar. Aprender a violentar-se; a trair seus
pensamentos; suas emoções pessoais; seu caráter; o quão triste deve ser aprender
a fugir dos olhares críticos dos filhos, os nossos mais incorruptíveis e
inexoráveis julgadores! Quem obedece cegamente acaba se perdendo pelas dobras
dos caminhos. Não devemos renegar os
nossos heróis do passado, alguns deles vivificados no presente e todos
necessariamente renovados no futuro!
Depois de havermos
aprendido ao longo de toda uma vida que a verdade deveria ser um dos três
pilares da nossa vida militar, não é possível acreditar que aqueles nos
comandam, de repente estejam empolgados pela descrença e exclamem:- - Não! --
Deixemos que as mentiras; deixemos que as ilusões tomem conta das almas fracas;
elas são incapazes de conviver com a claridade. Deixemos todos nos braços da
escuridão! Tudo pela governabilidade do país! Ruim com esses que agora nos
governam, pior sem eles. Afinal, quem para substituí-los? -- se todos, salvo as
raríssimas exceções de sempre, estão mergulhados na lama da mediocridade e da
mais severa corrupção!
Queiram ou não queiram
os nossos adversários: os melhores dias foram aqueles quando éramos felizes e
não sabíamos...
Mas:- - Ai dos vencidos!
– Vencidos, mas sem nunca esquecer que o ser servil, também traz seus
perigos...
Fiquem com Deus.
Militares nunca mais!
Coronel Maciel.