O atual Brigadeiro Rui Moreira
Lima, hoje reformado, quando coronel, comandou a Base Aérea de Santa Cruz, até
o dia que ele considera como o “Golpe de 64”. Ora -- como todo militar
disciplinado deve ser -- ele tinha por obrigação ser também leal ao Presidente
da República, na época o João Goulart.
Como leais e disciplinados devem ser os nossos atuais comandantes para com
dona Dilma... Quando um comandante achar que não deve mais ser leal ao
presidente, ou à “presidenta”, ele deve “pedir as contas” e ir cantar em outro
terreiro...
Moreira Lima sabia que
muitos dos “pilotos de caça”, a grande maioria, eram favoráveis ao “Golpe”...
Quando o “Comandante do Grupo de Caça”, obedecendo ordens do “Comandante da
Base”, reuniu seus pilotos, colocando-os de prontidão e mandando armar os
aviões, tenho a certeza absoluta que sua intenção não era atacar as tropas
revolucionárias, mas sim qualquer reação a elas...
-- “Me puseram nesse
fogo”. -- Mas tive a felicidade de ver esses rapazes se manterem disciplinados
a mim... Muitos desses ”rapazes” a quem o Rui se refere são -- e tenho orgulho
de dizer -- meus colegas de turma, Aspirantes-Aviadores da turma de 62,
formados no já lendário “Campo dos Afonsos”.
Moreira Lima tinha
pleno conhecimento da revolução que se aproximava. Sabia que Jango começou a
cair no “Comício da Central”, quando ele o foi assistir à paisana, como simples
cidadão, tendo ficado preocupado, para não dizer apavorado, com os termos
agressivos dos discursos, discursos que assustavam a classe média conservadora
brasileira. Uma semana antes do “31 de março”, diz o Rui, a sua Base sofreu ameaças de invasão de
oficiais de outras unidades. -- “Eles estavam doidos para me criar
problemas”... – Os chefes, como o Castello Branco e toda sua gente, na
realidade não faziam nada; eram uns pândegos... Falavam muito e só faziam
fofocas... – Quem fez mesmo a revolução foi o Mourão Filho. Os oficiais
golpistas de Aeronáutica queriam tomar a minha Base porque era a única que
podia reagir, pois era a que tinha realmente a força; a força dos nossos
aviões. – Assumi a defesa e mandei prender todo mundo...
Moreira Lima reconhece
que havia muita indisciplina nas Forças Armadas. E que por falta de comando
aqueles sargentos do “Levante de Brasília” começavam a ocupar espaços...
Eu particularmente
sempre fui contra politicagem nos quartéis. Moreira Lima promovia palestras
políticas na sua Base, levando gentes como Osvaldo Lima Filho, João Pinheiro
Neto, para falar sobre reforma agrária, um tema quente e muito solicitado na
época. Convidava dom Hélder Câmara, o famoso Bispo Vermelho, para falar sobre
Jesus Cristo, sobre Cristianismo, mas com uma visão socialista (ou comunista?)
pura... – Mas nunca houve deslizes, a não ser a prisão de dois oficiais que
achavam que aquilo não era certo, e que eu não devia incentivar conferências
políticas dentro da Base... – Enquadrei os dois com oito dias de prisão para
cada um... Eles não reclamaram, nem recorreram; eram dois garotos que
resolveram me enfrentar, e se deram mal... A questão da hierarquia é
fundamental, nos diz o Rui, que respeito pela sua idade e pelas suas muitas
missões de guerra enfrentando de peito aberto as poderosas artilharias
antiaéreas dos alemães nos céus da Itália.
PS:- - O Brigadeiro Rui
Moreira Lima exerce até hoje (em minha opinião) grande influência nos oficiais
“caçadores”, principalmente naqueles mais “antigos”.
PS2:- - Em minha opinião,
o atual “Manifesto” dos presidentes dos Clubes Militares não reflete o
desencanto da maioria dos nossos militares, nem a da classe mais conservadora
da nossa sociedade.
Coronel Maciel.