Quando eu era
Tenente-Aviador, num daqueles dias frios de junho em Barbacena, a linda cidade
das flores, tirando serviço de Oficial-de-Dia na Escola Preparatória de Cadetes
do Ar, fui procurado por um “soldadinho”. Um soldadinho desses “bem mineiro”, que
ingenuamente veio-me perguntar quando começaria a voar, pois “ouvira dizer” que
servindo na FAB como soldado, poderia se tornar um “grande aviador”, seu grande
sonho na vida.
Sem acreditar no que
ele me dizia; sem acreditar na sua santa ingenuidade, disse-lhe que ele estava
um muito “enganado”, pois, para ser aviador como ele tanto desejava teria que,
primeiro:- ser aluno da Escola; depois, Cadete-do-Ar na Escola de Aeronáutica,
no Campo dos Afonsos; depois, Aspirante-Aviador em Natal; e só depois de muitos
“depois” é que poderia chegar a ser o que queria ser: -- isto se não topasse
pela frente com algum desses enormes CB’s -- Cumulus Nimbus, tipo de nuvem de
desenvolvimento vertical, muito densas, que atingem grandes altitudes -- e que costumam cortar a carreira da gente...
Mas notei que o
soldadinho ficara triste, muito triste, com um olhar perdido no espaço frio,
infinito e azul de Barbacena. E senti pena, muita pena do soldadinho, quase um
soldadinho de chumbo... Levei então o caso ao comandante da Escola, um
Brigadeiro com B maiúsculo, mais conhecido como Brigadeiro Camarão. Conversamos
muito sobre o caso, como também rimos muito...
Dias depois,
conversando com o soldadinho, que era muito humilde, mas muito inteligente,
disse-lhe que havia resolvido ajudá-lo a conseguir realizar o seu “sonho
impossível”... Arranjei um jeito de colocá-lo na Seção de Aviões da Escola. E
lá, nas minhas horas vagas, fui lhe ensinando os rudimentos da aviação.
Rudimentos de regras de voo (parece que voo agora não tem acento), regras de
tráfego aéreo, navegação aérea, regras de voo por instrumentos, e muitas e
muitas e muitas outras coisinhas de aviação. E sempre que podia levava o
soldadinho, como “Segundo piloto mecânico ajudante de reabastecimentos” nos voos
de Regente, nos “meus” corajosos T-6, nos célebres “Beech-Mata-Sete” -- e assim
ele foi aprendendo os “mistérios” da aviação. Arranjei-lhe um cursinho
“Wallita” de piloto privado no aeroclube. A assim ele foi indo, foi indo, foi
indo, deu baixa da FAB e se tornou um grande comandante de aviação executiva.
Até hoje aquele “ex-soldadinho”
nunca se esqueceu da “ajuda” que lhe demos: eu, o Camarão, e principalmente sua
grande força de vontade!
Coronel Maciel.