segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Voando pelos céus da Amazônia.



Quantas e quantas vezes – pilotos, mecânicos, rádio telegrafistas, médicos, todos nós que fazíamos parte das tripulações dos aviões do Primeiro Esquadrão de Transporte Aéreo sediados na inesquecível Base Aérea de Belém -- pernoitamos nas antigas missões “Salesianas”, ao longo do majestoso Rio Negro. Após o café da manhã, antes da partida, o piloto comandante era solicitado pela “Madre Superiora” a escrever algumas linhas sobre aquele pernoite; um simples agradecer pela simples e sempre amiga acolhida.
Lembro-me bem daquele dia que pernoitamos em Jauaretê, ou “Yauaretê”, uma linda cidade, uma pequenina pérola situada no extremo noroeste do Amazonas, numa região conhecida como “Cabeça do Cachorro”, devido à semelhança desenhada pelos limites do Brasil com a Colômbia se parecer com a cabeça de um cachorro. É lá que os “Rouxinóis do Rio Negro” constroem seus ninhos. Com suas penas “mais negras que as asas da graúna”; com suas penas douradas que lhes cobrem o papo, aqueles pássaros ficam tão mansos que voam para o “topo” daquelas árvores tão altas e tão frondosas, para depois voltar, ao primeiro chamado dos seus donos.
(Os nossos aviões se pareciam àqueles rouxinóis. Voavam, voavam, voavam e depois voltavam ao ninho antigo. Mas alguns não voltaram, jamais...)
Pois bem. -- Naquele dia a nave americana “Columbia” havia sido lançada ao espaço sem fim. – Foi então que eu, aproveitando a “deixa”, escrevi a seguinte mensagem no famoso “Livro das Freiras”:
“Neste tão lindo dia, quando a nave Columbia realiza o seu segundo voo orbital em torno da terra, outra nave, muito mais velha e muito mais amiga, estará cruzando os céus amazônicos, transportando em suas prateadas asas as cargas divinas da esperança! Voando e transportando as tão esperadas lembrancinhas; os bilhetinhos; as cartas de amor; os milagrosos remédios, os médicos, os dentistas, os jornais; as velhas revistas para serem distribuídas pelas comunidades ribeirinhas ao longo do Rio Negro, e deste majestoso Rio Uaupés, comunidades tão carentes das novidades das cidades grandes”.
E, como todo aviador tem sua veia “romântico-poética”, “solenizei”, assim, aquela “despedida”:
     “E a nave Columbia,
      Lá do alto, lá do céu,
      Não se cansa de dizer:
      Oh Dakota, meu irmão!
      Que sejas sempre fiel
      Ao Capitão Maciel
      E sua tripulação...”
 Tudo fazendo parte das sadias brincadeiras que fazíamos naqueles velhos tempos sobrevoando a imensa, a linda, a majestosa floresta amazônica!

Coronel Maciel.





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