Jorge Amado, comunista
não sanguinário — eu não me envergonho de dizer que tenho amigos comunistas;
nem todos são sanguinários--comunistas --- e por ser comunista teve seus livros
divulgados pelo mundo inteiro; traduzido em alemão, espanhol, francês, grego,
húngaro, italiano, norueguês, polonês, romeno, russo, tcheco...
“Capitães da Areia”,
para mim, é um dos seus melhores livros. Publicado em 1937, pouco depois de
implantado o “Estado Novo”. Teve sua primeira edição apreendida e 808
exemplares incinerados pelos “censores” da ditadura Vargas, por terem sido
considerados propagandistas do “Credo Vermelho”. Capitães da Areia nos conta
histórias das crianças abandonadas pelas ruas, becos e ladeiras da Bahia de Todos
os Santos e do pai de santo Jubiabá. Numa
das páginas mais comoventes desta verdadeira obra-prima da literatura
universal, Jorge Amado nos conta o enterro de Dora, a amante ainda menina de Pedro
Bala, o líder dos Capitães: “Como uma estrela de loira cabeleira”: -- Contam no
cais da Bahia que quando morre um homem valente ele vira estrela no céu. Assim
foi com Zumbi, com Lucas da Feira, com Besouro, todos negros e valentes. Mas
nunca se viu um caso de mulher, por mais valente que fosse, virar estrela depois
de morta. Algumas, como Rosa Palmeirão, Maria Cabaço, viraram santas nos
candomblés de caboclo. Mas nunca nenhuma virou estrela.
Não sei se Deus vai
perdoar o Jorge Amado por ter sido ateu e defendido o credo comunista (aliás, é
pleonasmo dizer que todo comunista é ateu). Não sei também se Deus vai nos
perdoar por havermos traído a confiança e esperanças tantos milhões de
brasileiros, deixando o Brasil cair de mansinho nas mãos de comunistas tão
ateus, quanto corruptos, incompetentes e sanguinários.
Coronel Maciel.